O Estranho Mundo de
Jack
Caía o outono em
Halloween, a noite enregelava...
Contra a Lua, só, num
monte, um esqueleto cismava.
Era esguio e comprido e
um laço-morcego trazia;
Jack Esquelético, o nosso
protagonista,
Aborrecia-se de morte na
cidade de Halloween,
Onde tudo decorria de
forma prevista.
"Já me cansa meter
medo, sustos e pavor.
Estou farto de ser algo
que enche a noite de terror,
Farto de maus-olhados, de
infundir alvoroço,
E os meus pés agonizam
com a dança dos ossos.
Não gosto de cemitérios,
quero mudar de ares!
Deve haver mais na vida
que caretas e esgares!»
Durante toda essa noite e
todo o dia a seguir,
Jack andou sem parar, sem
saber por onde ir.
Até que no coração da
floresta, a noite caía,
Jack teve uma visão de
intensa magia:
Ali, a escassos metros...
mesmo à sua beira...
Três portas esculpidas de
maciça madeira.
Ficou estupefacto, sem
tirar o olhar
De uma porta, entre
todas, a mais singular.
Atraído, excitado, mas
também ansioso,
Jack abriu-a e entrou num
mundo branco e ventoso.
Jack nem calculava, mas
tinha ido parar
À cidade do Natal - o
nome desse lugar.
E, banhado em tal luz, já
não se inquietava,
Pois enfim encontrara o
que mais lhe faltava.
Para os amigos não
julgarem que ele mentia,
Tirou as prendas e os
doces que por lá havia:
Levou lembranças das
meias junto à chaminé
E uma foto do Pai Natal
com duendes ao pé.
Pegou nas luzes, nas
fitas e bolas do pinheiro,
E roubou um N grande que
viu num letreiro.
Arrecadou aquilo que
achou cintilante
E até uma bola de neve
gigante.
Limpou tudo num ápice e,
muito apressado,
Voltou à sua terra sem
ser apanhado.
Tim
Burton, O estranho mundo de Jack, Orfeu Negro